Não me olhes assado!

Não me olhes assado…


...dou-te uma chapada que te viro de lado.


Quando os raios de sol, filtrados pelo nevoeiro matinal, entram pela janela do quarto a acariciarem o meu despertar…


... é quando me abocanhas o nabo entesoado.


Faço zapping, instinto zombi, enquanto os recibos do mês passado voam na brisa do meu flato, para se acumularem num acolchoado tapete ruivo…


...onde a seguir te monto à canzana, até ficarmos com os joelhos queimados.


Os teus enormes olhos negros presos em mim…


..."tásolharpaonde?"




- Porque me olhas assim, caralho?
- Assim como, foda-se?
- Como se esperasses algo de mim!
- Yah, 20 euros pa ir ao Colombo.


Afasto-me, em direcção à janela… A respiração forte e irregular, a minha mão que treme como se fosse exterior a mim o desejo de te partir a cara… Tu apunhalas-me pelas costas, a lâmina desliza por baixo das minhas costelas, provocando um início de hemorragia fatal, para se quedar na minha omoplata… Umas quantas lágrimas humedecem-me o olhar…


Viro-me, cotovelo em riste, e és projectada contra a parede branca do quarto… O nevoeiro da manhã dá lugar a uma névoa escarlate; quebrei-te a cana do nariz, osso versus cartilagem adivinha quem ganhou, poisé, bebé...


Mas a névoa acompanha a cascata, e algo escorre pelo meu flanco (sumo de romã? ideia parva), formando agora uma pequena mancha vermelha no chão branco do nosso quarto.


Afasto-me mais um pouco, num gesto de vergonha, vergonha por ter baixado os meus padrões com uma puta tão reles como tu, a minha mãe é que sabia, só fui contigo pra chatear a velha…
A minha mão esquerda continua a tremer demasiado, tou a ficar com Parkinson, comó Michael J. Fox…


Giro-me em direcção a ti, rodopio shaolin no ar… Verifico quão eficaz é um pontapé na boca quando aplicado com uma bota de biqueira de aço...
Dentes voam como grãos de milho duma maçaroca.


- Não me olhes assim!
- Fuquê? (o tal problema dos dentes)
- Porque me enlouqueces! (novo roundhouse na caixa córnea)


A naifa solta-se da tua mão e flutua, estranhamente, em câmara lenta até ao chão… Onde se instala no peito do teu pé. Uma sacudidela envia a arma voando até à minha garganta. Que artístico! Especialmente porque me acertas em cheio numa carótida.


Algumas gotas de sumo, perdão, de sangue (outra vez a merda da romã...) voaram até às tuas pernas brancas! Ajoelho-me diante de ti e bebo o teu doce sangue, enquanto me desvio das tuas joelhadas. A mancha vermelha do chão continua a alastrar-se, talvez por estar a golfar combustível de duas artérias... Discirno, claramente, que estou fodido.
Começam a formar-se assim como um túnel à volta de mim, estou a entrar em slow-motion...


- Não me olhes assim... (tento dizer, extraindo a faca do meu pescoço.)
- AAaghh! (ela acabou de levar uma facada, só pra saberem.)
- Porque me aleijas! (digo-o sem palavras, nova facada. E mais outra. E outra.)


Moves-te em direcção à cama, começas por desfazê-la como se desmontasses o cenário do nosso pequeno Teatro dos Horrores… Os lençóis encardidos passam a ser outra coisa, uma pasta vermelha, até que tornam o quarto assim mais que... vivo, tásaver?
Enquanto me deito em cima de ti, quase exangue, percebo que...
...não percebo nada. Não consigo lembrar-me de nenhuma metáfora estúpida entre amantes, sangue, e a merda da tal romã...


- Não me olhes assim!
- Porquê?
- Porque me tás morta!


E está, de facto. Os olhos vítreos de cabrito imolado não deixam margem pra dúvidas.
Entretanto eu estou mais pálido que o cu do Billy Idol, e chateia-me a hipótese de, a haver um Inferno, o vou passar com aquela vaca...


E eu, que esta manhã só queria sair à rua pra mamar uma jola e fazer um totoloto...


E eu, que esta manhã só queria que te fosses foder!


Tásolharpaonde?

Comentários

alphatocopherol disse…
Um plágio simplesmente brutal! Até onde a mente humana não se atreveria plagiar...






... Por isso gostava de saber de que planeta vens? :p

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